Avaliação: Volkswagen Tiguan R-Line
Um tipo de crossover bem diferente do comum
Por Jorge Augusto
FOTOS: Marcelo Alexandre
A Volkswagen Tiguan não é uma novidade no mercado brasileiro. Aliás, podemos dizer que o modelo é relativamente comum nas ruas brasileiras. Quando a Volkswagen trouxe o modelo pela primeira vez, investiu pesado numa campanha de mídia para bater na tecla de que a Tiguan pertencia a “uma outra categoria de off-road”. Claro que a marca forçou um pouco a amizade, posicionando a Tiguan como um “off-road”. Ainda sim, a Tiguan guarda diversas singularidades, quando comparada os demais concorrentes diretos. Ela foi lançada no Brasil em 2009, e teve sua reestilização em 2011.
Um crossover diferenciado
Por definição, um veículo que carregue o selo de verdadeiro “off-road” precisa cumprir determinadas tarefas no fora-de-estrada. De cara, tais veículos precisam ter uma tração 4x4 de verdade, usada para superar obstáculos difíceis. Além disso, necessitam de pneus de uso misto, boa altura em relação ao solo, elevados ângulos de entrada e saída, caixa de redução no câmbio e sistema blocante nas rodas. Pois bem, a Tiguan não tem praticamente nenhum dos itens mencionados! Ainda sim, isso não invalida o fato da Tiguan ser um Croosover bastante diferenciado.
Pra começar, o porte avantajado da Tiguan sugere um veículo multiuso. É verdade, que a Tiguan consegue fazer uma série de coisas, que um sedan convencional não vai conseguir igualar. Inclusive, a Tiguan é ainda mais útil que uma picape média (com tração 4x2) em algumas situações.
Agora, a parte que mais encanta na Tiguan, é justamente o fato do veículo ter elevada utilidade em várias aplicações, com a verdadeira dirigibilidade e conforto de um bom automóvel sedan. E o mais importante: com um desempenho de fazer inveja a muitos sedans médios (inclusive os mais vendidos da categoria!).
Tração 4Motion
Um dos segredos da Tiguan esta justamente no seu interessante sistema de tração integral, totalmente automático. Batizado de 4Motion, essa não é uma tração 4x4 igual às encontradas em veículos fora de estrada. Normalmente, a Tiguan tem tração apenas nas rodas dianteiras, assim como a esmagadora maioria dos veículos de passeio. Isso é feito para economizar combustível e melhorar a dirigibilidade em pisos de boa aderência, como asfalto seco.
Entretanto, o coração (e a “beleza”) do sistema 4Motion esta num dispositivo de acoplamento totalmente automático, baseado num diferencial “multidiscos” que conecta a tração ao eixo traseiro do veículo, somente quando é necessário. Assim, utilizando informações colhidas pelo sistema de estabilidade eletrônico do veículo, o sistema do gerenciamento do 4Motion, sabe quando existe perde de tração nas rodas dianteiras do carros (por estarem girando mais rápido que a traseira). Exatamente nessa situação, o diferencial multidisco começa a transferir parte da força do moto r para as rodas traseiras. Até 60% da força do moto r, pode ser direcionada para as rodas traseiras do veículo. E tudo isso acontece de forma muita rápida, e automática. O moto rista não precisa apertar nenhum botão, ou acionar qualquer alavanca. Isso é especialmente útil numa infinidade de situações!
Imagine que a Tiguan está num piso inclinado, coberto por grama molhada. Qualquer carro com tração dianteira não conseguirá subir. Já a Tiguan, com a distribuição da tração, e a aplicação do bloqueio eletrônico do diferencial (atuação dos freios de forma independente na roda que esta girando demais) conseguirá subir sem muitos problemas. Esse é o mesmo problema visto em rampas de paralelepípedos molhados. Até mesmo em estradas de terra com alguma lama, ou caminhos de praia com areia encharcada (ou fofa) será possível atravessar com segurança. Mas o sistema 4Motion da Tiguan vai além das situações corriqueiras de tração, em baixa velocidade.
Se o moto rista estiver dirigindo por uma estrada muito sinuosa (tipo serra), com piso molhado, com velocidades acima de 80 km/h, o 4Motion também poderá atuar. Nessas situações de curvas constantes, o eixo traseiro fica permanentemente acoplado. Isso é feito para melhorar o equilíbrio dinâmico do veículo, otimizando o momento da curva, com a distribuição da tração de forma uniforme, pelas quatro rodas. Assim, a chance de derrapagens diminui consideravelmente, deixando aquela sensação que o carro esta andando em trilhos. Se houver um escorregamento, é porque o moto rista abusou demais da velocidade na respectiva situação. E ai, as quatro rodas vão escorregar de uma vez só. Mas é um fato que o 4Motion da Tiguan, associado ao programa de estabilidade eletrônico do carro, não vai deixar uma ou duas rodas patinarem, indevidamente!
Ainda que o sistema seja muito eficiente, ele tem suas limitações especialmente no fora-de-estrada. Como ele não é capaz de direcionar 100% da força para um único eixo, e não consegue “bloquear” completamente a tração em uma única roda (ou até mesmo somente num lado do carro), a Tiguan não é indicada para as aventuras estilo “Rally Exploratório”. Nessas situações de máxima tração, a Tiguan vai acabar atolada, e até mesmo danificada!
Motor 2.0 litros turbo
Outro diferencial da Tiguan é justamente o moto r 2,0 litros – 16 válvulas turbo, da família EA888. Esse moto r que na Tiguan vem com 200 cavalos, é praticamente o mesmo que equipa o Fusca, o Jetta TSi, o Passat, a Passat Variant e uma recente nova versão do Volkswagen CC. A diferença é que em alguns dos modelos citados, o moto r tem uma programação para entregar 211 cavalos. Até mesmo o novíssimo Golf GTI (com 220 cavalos), utiliza o mesmo bloco do moto r da Tiguan. Porém no Golf, existem mudanças no cabeçote do moto r, sistema de injeção e turbina.
Assim, o moto r TSFI 2.0 de quatro cilindros com turbocompressor produz 200 cavalos de potência máxima à 5.100 rpm. O torque máximo é de 28,5 kgfm, disponibilizado na ampla faixa dos 1.700 aos 5 mil rpm.
Junto com o moto r turbo, a Tiguan vem equipada com um câmbio automático de seis marchas. Atenção que o câmbio da Tiguan não é igual ao robotizado de dupla embreagem (DSG) encontrado no Fusca, Jetta e Passat!
Desempenho
Esse é outro ponto onde a Tiguan se descola dos seus concorrentes diretos. Mesmo com 1.585 kg, o modelo acelera de 0 à 100 km/h em apenas 8,5 segundos. A velocidade máxima é de 207 km/h. Tem muito sedan médio que não atinge nenhuma dessas duas marcas. E praticamente nenhum outro Crossover (na faixa de preço da Tiguan) consegue fazer o mesmo. E ainda existem mais surpresas. Na estrada, dirigindo de forma moderada em 110 km/h, o moto rista vai conseguir médias de até 11 km/h. Considerando o tamanho, o peso e o elevado desempenho, a média é excelente.
Muitos equipamentos
É bem verdade que a Tiguan tem uma série de opcionais de fábrica. Na versão básica de entrada, o modelo não encanta tanto assim quando o assunto é equipamentos e comodidade. A Tiguan traz poucas coisas além do básico, no conforto como: direção com assistência elétrica, ar-condicionado digital de duas zonas "Climatronic", 6 airbags, espelho retrovisor interno antiofuscante (eletrocrômico), freio de estacionamento eletrônico com função "Auto-Hold", sensor de chuva, sensor de estacionamento traseiro e volante multifuncional com comandos do sistema de som e shift paddle.
Agora, quando o assunto é incluir o pacote que a Volkswagen chama de “Premium”, a Tiguan incorpora um pacote de equipamentos de fazer inveja à muitos carros de luxo!
De cara, o veículo já recebe aquecimento dos bancos dianteiros. O banco do moto rista passa a contar com ajuste total elétrico, inclusive o lombar. Os espelhos retrovisores externos além de eletricamente ajustáveis, passam a ser rebatíveis, com aquecimento para não embassar e com função "Tilt down". Outro diferencial são os faróis bixenônio com luz de condução diurna em LED. Eles também contam com ajuste dinâmico de luz, inclusive virando nas curvas.
Outra comodidade é o comando re moto "keyless". A chave é presencial, permitindo entrar e sair do carro apenas pelo acionamento da maçaneta, e a partida do moto r, por botão.
Um equipamento muito útil é o multimedia que engloba o som e o navegador GPS. Além de reprodutor de CD-Player, conta com entradas SD Card, tipo P2 e conexão Bluetooth. Além disso vem com tela touchscreen de cinco polegadas. Ainda existe uma interface MMI. Através dela, comprando cabos específicos, é possível conectar pen-drives e iPhones.
No quesito visual, o modelo recebe rodas de liga leve Aro 18 polegadas, com pneus 235/50 R18.
Park Assist 2.0
Fechando o pacote, tem-se o exclusivo sistema Park Assist 2.0 com câmera traseira. Esse equipamento auxilia o moto rista ao estacionar a Tiguan, tanto numa vaga de rua, quanto numa vaga de shopping. Basta acionar o sistema por um botão no console, escolher o lado que deve ser feito a manobra usando a luz de seta e observar as instruções no painel do carro. O moto rista só precisa acelerar e frear o carro, bem como selecionar a marcha para frente ou para trás, no câmbio automático. O volante vira sozinho, enquanto o carro é manobrado automaticamente na vaga. O sistema também pode ser utilizado para retirar o carro da vaga.
Pacote R-Line
Quem espera mais da Tiguan, pode acrescentar o pacote visual R-Line. Apenas com a função de diferenciar a estética do veículo, o pacote R-Line acrescenta para-choques e soleiras da porta em estilo "R-Line"; pedais de aço inoxidável; rodas de liga leve Aro 18 polegadas com desenho "Mallory"; Spoiler traseiro em estilo "R-Line" e volante multifuncional em estilo "R-Line" que também inclui os comandos do sistema de som e computador de bordo, além dos shift-paddles.
Algumas questões
Considerando o tamanho e a proposta do veículo, um porta-malas de 505 litros talvez seja um pouco limitado para viagens mais longas. Outro detalhe, é que o espaço no banco traseiro não é aquela maravilha. Até acomoda adequadamente três adultos, mas o espaço na Tiguan é visivelmente menor que o observado em outros concorrentes de mesmo porte. Por fim, o estepe de uso temporário (e bem mais fino), limita muito o uso veículo, quando um pneu fura.
Mercado
Segundo Flávio Bigatto, gerente de vendas da Volkswagen Germânica Campinas (unidade Amoreiras) o cliente desse modelo se divide em 50/50% (homens e mulheres). O usuário típico tem entre 35 e 55 anos, geralmente casados e com filhos. A escolha se dá uma vez que a Tiguan serve para o uso diário, em função da boa dirigibilidade, elevado desempenho e praticidade no dia a dia. Geralmente, quem procura a Tiguan, busca por elevada qualidade, porém não quer chamar tanto a atenção (situações de assalto/roubo) como acontece com outros modelos de marcas consideradas Premium. O opcional mais procurado na Tiguan é justamente a central multimedia com GPS. Também existem clientes que procuram a versão “top” com todos os opcionais. Flávio conclui dizendo que: “as cores mais procuradas são a branca e a preta. E a Tiguan, geralmente, traz muitos clientes de sedans médios como Civic e Corolla”.
Preço
A Volkswagen Tiguan tem uma versão única. O preço inicial parte de R$ 117 mil. O que existem são pacotes de opcionais. O pacote mais caro de todos é o Premium que custa R$ 24 mil. O cliente ainda pode adicionar o pacote estético R-Line que acrescenta mais R$ 7 mil. Outro interessante (e caro equipamento) é o teto-solar panorâmico por R$ 6 mil. Com tudo que tem direito, a Tiguan vai à R$ 154 mil. Fato que não é um modelo barato, e também não tem um bom custo-benefício.
Agora, quem busca um “algo mais” entre Honda CR-V, Toyota RAV4, Hyundai IX35 além de outros crossovers, terá na Volkswagen Tiguan um produto verdadeiramente diferenciado, principalmente no desempenho e na tecnologia embarcada. Só que tudo isso tem um preço, que não é barato.
Revista Comprecar
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