Comparativo: C3 Tendance x 208 Active Pack
Briga dentro de “casa”, com as versões automáticas e intermediárias
Já faz um bom tempo que a Citroën e a Peugeot fazem parte de um mesmo grupo industrial. Aliás, no Brasil, a fábrica de Porto Real da PSA Peugeot Citroen, no Rio de Janeiro, produz simultaneamente os compactos 208 e C3. Mais do que isso, esses modelos compartilham a plataforma, a tecnologia e o powertrain. Ainda sim, ambos modelos conseguem ter personalidade própria, e performances bem diferentes nas vendas. Nesse comparativo, colocamos frente a frente duas verões intermediárias, sendo o 208 Active Pack e do C3 Tendance, ambas equipadas com o mesmo câmbio automático.
Em ambas as marcas, as respectivas versões são a primeira opção possível, com a possibilidade do câmbio automático. Tanto na Citroën, quanto na Peugeot, existem versões mais equipadas com essa escolha de câmbio. Um detalhe muito importante: o câmbio automático só está associado ao moto r 1,6 litro – 16 válvulas. O moto r 1,5 litro ofertado no C3 e no 208 só faz par com o câmbio manual de cinco marchas. Mas antes de falarmos das diferenças, vamos destacar onde os modelos são exatamente iguais.
Motor 120 VTi Flex Start
Tanto o C3, quanto o 208 estão equipados exatamente com o mesmo moto r. Trata-se do VTi 120 Flex Start. Na configuração de 1,6 litro – 16 válvulas com comando variável, entrega 122 cavalos de potência máxima (a 5.800 rpm) e um torque máximo de 161 Nm a 4.000 rpm com etanol. Na gasolina são 115 cavalos (a 6.000 rpm) com torque de 152 Nm. Vale destacar que 80% do torque máximo já está disponível a partir de 1.500 rpm. Esse moto r figura entre os de maior potência na categoria de hatch-back compactos. Para se ter uma ideia da eficiência desse moto r, ele também equipa o Peugeot 308 - 1,6 litro (um carro nitidamente maior).
Entre os diferenciais desse moto r está a tecnologia Flex Start. Isso elimina o reservatório de gasolina (“tanquinho’’) do compartimento moto r, não havendo a necessidade de colocar gasolina para auxiliar na partida a frio. O Flex Start controla a operação de pré-aquecimento do combustível, quando abastecido com etanol e em baixas temperaturas.
Mas o ponto fraco de ambos os modelos é justamente o câmbio automático de quatro marchas. Dessa forma, é o moto r que acaba fazendo todo o trabalho para deixar os compactos com um desempenho convincente. Vale destacar que nessa categoria, tanto o C3, quanto 208 são dos poucos modelos com câmbio automático “de verdade”. Grande parte dos concorrentes diretos está utilizando um sistema de câmbio robotizado, que provoca um tipo de “tranco” no momento da troca de marcha. E isso não acontece em carros com câmbio automático de verdade. Pela ótica do “conforto”, o câmbio automático ainda é a melhor solução.
Mais equipamentos similares
Ambos os modelos trazem direção com assistência elétrica. Ela é a mais leve e permite realizar manobras de baixa velocidade com mais facilidade. Outro detalhe presente em ambos é a regulagem de altura e profundidade do volante com paddle-shifts atrás do volante para trocas manuais de marcha. Eles também saem equipados com ar-condicionado manual de simples zona, vidros elétricos com simples toque para o moto rista, espelhos laterais com controles elétricos e banco do moto rista com ajuste de altura. Outra semelhança está nas rodas de liga-leve de 15 polegadas, com pneus nas medidas 195/60 R15. Os estepes também são iguais, com rodas de ferro e pneus na medida 195/60 R15. Detalhe interessante que esses pneus vêm de fábrica com tecnologia “verde”, com o objetivo de diminuir o coeficiente de resistência ao rolamento. Os dois carros trazem tanque de combustível com 55 litros. Algo que precisa ser melhorado em ambos os carro é o fato de ter que dar a chave para o frentista na hora de abastecer.
Ainda que os interiores sejam diferentes, ambos trazem uma solução bastante parecida. O desenho moderno proporciona amplo espaço para pernas no banco dianteiro (um dos maiores da categoria) E para surpresa de todos, também oferece o porta-luvas com amplo espaço, capaz de acomodar uma bolsa feminina. Os mais atentos vão notar que o banco do passageiro, pode ser colocado completamente para frente, sem que o passageiro bata o joelho no porta-luvas. Isso porque o porta-luvas foi deslocado para cima e para frente nessa plataforma da PSA. De resto, os modelos são bem diferentes, como veremos agora.
As várias diferenças
Engana-se quem imagina que com tantas similaridades, os carros são exatamente iguais. Além do visual externo bem diferente, os interiores são totalmente diferentes. Até mesmo a dirigibilidade muda de um modelo para o outro.
Desempenho
Ainda que eles tenham o mesmo moto r e câmbio, e dimensões bem parecidas, o rendimento já mostra ligeira diferença. Com etanol, o Peugeot 208 faz o 0 à 100 km/h em 10,7 segundos, com máxima de 191 km/h. Já no C3, o 0 à 100 acontece em 11 segundos, com máxima de 190 km/h. Essa diferença se dá, pois o C3 é ligeiramente mais alto no teto, principalmente na parte de trás.
Espaço interno
Então, o desempenho ligeiramente menor do C3, revela uma vantagem. Quem viaja no banco traseiro do Citroen, tem mais espaço para a cabeça, em relação ao teto. Além disso o C3 traz três encostos de cabeça no banco traseiro, enquanto o 208 conta com apenas dois. Outra diferença é observada no porta-malas. Enquanto o 208 oferece 285 litros, no C3 são 300 litros de capacidade. Ainda que pequena, é a diferença de conseguir colocar uma pequena mala a mais!
Os equipamentos diferentes
Esse é outro ponto que difere bastante um carro do outro. Pra começar, uma vantagem do 208 é o fato dos cintos de segurança dianteiros contarem com o ajuste de altura. No C3 eles são fixos, sem essa possibilidade de ajuste. O 208 conta ainda com repetidores de seta integrados nos retrovisores laterais (indisponível no C3).
Já o C3 traz simpáticos leds brancos de sinalização diurna, instalados nos para-choques dianteiros. Muito mais que um efeito bonito, esses leds ajudam a reduzir acidentes. O carro fica muito mais visível no trânsito, ou quando entra repentinamente em garagens, tuneis ou outros locais escuros. No 208 essa sinalização diurna é feita em luzes convencionais, bem menos bonitas. O uso de LEDS no 208 só é visto na versão topo de linha. Mas o 208 traz sinalização da luz de lanterna traseira com guias iluminadas por LEDs (as demais funções utilizam lâmpadas convencionais, como acontece em todas as funções da lanterna do C3). Aqueles muito atentos vão notar que no 208, bem no centro do pára-choque traseiro, existe uma luz de neblina independente (no C3, ela está integrada numa das lanternas, suprimindo a luz de ré).
O porta-objeto junto a alavanca de câmbio no console central é bem mais eficiente e organizado no 208. No C3, esse compartimento apesar de grande, deixa os objetos caírem quando o moto rista dá uma acelerada forte.
Por fim, o sistema de climatização é melhor no carro da Citroen. O C3 conta com cinco saídas de ar no painel. Dessa forma, a saída central pode ser direcionada para o banco traseiro. No 208 são as quatro saídas tradicionais, semelhantes aos demais veículos.
Sistemas multimídia
O C3 vem equipado com rádio CD Player integrado ao veículo. Ele é compatível com MP3 e WMA, traz conexão bluetooth tanto para viva-voz quanto streaming de áudio além de porta USB e entrada P2. O rádio conta também com comando satélite na parte de trás do volante, montado na coluna de direção, para controlar funções de áudio e telefone. A versão testada também estava equipada com o sistema de GPS integrado. Mas esse é um equipamento opcional. Montado na parte superior do painel, a tela fixa está conectada ao sistema de som. A entrada de dados, e as funções de zoom, são controladas diretamente pelas teclas do rádio. Fato que essa não é a solução mais eficiente, pois é moroso e relativamente complicado fazer a introdução de um destino do GPS. Ainda que o rádio tenha teclas cursoras com movimentos nas 4 direções, é preciso correr o alfabeto para escolher cada letra do nome do destino.
No 208, a versão Active traz de fábrica uma central multimedia GPS com tela sensível ao toque. Isso é inédito na gama de produtos da PSA. O moto rista e passageiro da frente têm ao alcance uma central multimídia com tela sensível ao toque. Através dessa central é possível controlar o rádio, escutar músicas via conexão USB ou visualizar fotografias. Existe a opção da entrada auxiliar P2. E quem não gosta de usar fios, pode utilizar a conexão bluetooth para viva-voz e streaming de áudio. Dá pra escutar a música diretamente do iPhone (ou demais celulares compatíveis) via sistema de som do carro. Mas o sistema perdeu a entrada do CD. Muito mais eficiente que os demais sistemas oferecidos nos outros carros da Peugeot, os mapas que acompanham estão atualizados e completos. Existe uma base de dados com diversos pontos de interesse, como restaurantes, hotéis, postos de combustíveis, lojas e etc. E a vantagem da tela ser sensível ao toque, facilita muito a entrada de dados e escolha de destinos. Ainda através dessa central, o moto rista pode também acompanhar as informações do computador de bordo e configurar algumas funções do carro, como ativar o limpador do vidro traseiro, quando se engata a marcha-ré. Existe ainda controles do sistema de som/viva-voz celular instalados na parte da frente do volante. Um senão do equipamento fica por conta da baixa qualidade sonora das caixas acústicas do carro. Aliás, essa é uma desagradável característica da grande maioria dos carros produzidos pela Peugeot/Citroën, incluindo o C3 avaliado aqui.
O Conceito Zenith do C3
Certamente, o ponto de destaque do C3 Tendance é o moderno para-brisa Zenith. Inspirado no conceito Space Vision do C4 Picasso, o para-brisa avança sobre uma parte do teto. Isso resultou numa expansão do comprimento do para-brisa de 99 cm para 1,35 m, o que possibilitou aumentar do ângulo de visão superior em até 80 graus. Como uma bolha de vidro, o para-brisa Zenith permite ao moto rista e ao passageiro uma percepção ampla do meio ambiente, graças a uma visão vertical única nessa categoria de veículo. Essa visão pode ser mudada, com o simples “puxar” de uma cobertura. Construída com plásticos rígidos, essa proteção na posição estendida deixa a visão frontal igual a de um para-brisa normal. A proteção pode ser deixada em qualquer ponto do seu trilho, permitindo uma escolha livre entre a visão normal ou ângulo máximo vertical. Mas o parabrisa Zenith também tem os seus poréns. Se durante o dia o item é uma super inovação, a noite ele vira um problema. Com o sistema deslizante móvel, a Citroën suprimiu a tradicional lâmpada de leitura, que ficava próxima ao espelho retrovisor interno. Assim, se alguém quiser ler, ou procurar algo no carro a noite, terá apenas duas luzes de cortesia que ficam nas laterais das portas, acima dos vidros. Essas luzes são muito fracas e mal conseguem iluminar a região do console central. Outro problema é a inexistência de espelhos de cortesia em ambos os parassois, presentes na cobertura corrediça. Nem o moto rista, ou passageiro tem esse mimo. E para muitas mulheres, que não tem onde retocar a maquiagem, isso realmente incomoda bastante. Por fim, ainda falta a alça de segurança no teto para o passageiro da frente, e os parassois não podem ser girados para o lado, ao contrário do que acontece em todos os outros carros.
Já no 208, na versão Active Pack, o parabrisa é tradicional. Mas na família 208 existem outras versões que trazem um amplo (e exclusivo) teto panorâmico que ocupa quase todo o teto. A primeira versão que traz esse recurso, junto com o câmbio automático, é a Griffe com preço inicial de R$ 59 mil. Já versão Allure é basicamente a Active Pack com o teto panorâmico à mais, porém sem o câmbio automático e com o moto r 1,5 litro.
Dirigibilidade
Quem já dirigiu os dois carros, certamente vai achar esse item, como o que representa a maior diferença entre os dois modelos, aqui comparados. Para começar, ainda que eles tenham exatamente o mesmo projeto de suspensão, o comportamento dos dois carros é diferente, na prática.
No C3 é observado um comportamento mais suave. A suspensão é mais macia e o bancos também são mais confortáveis, inclusive com uma forração mais bonita e elaborada. A direção do C3 tem tamanho normal, igual às dos demais concorrentes. No C3, a visibilidade traseira também é um pouco melhor, em função do teto mais elevado. Além disso, o banco moto rista fica numa posição ligeiramente mais alta, que no 208. O isolamento acústico também é melhor no carro da Citroen.
Já no 208 a coisa é diferente. A primeira coisa que chama atenção é a visão que o moto rista tem do painel. A leitura das informações é feita por cima do volante. O volante é bem menor que em qualquer outro carro. Ele tem diâmetro 10% menor quando comparado ao do antigo 207 e fica numa posição mais baixa. Como assistência é elétrica (e variável de acordo com a velocidade), o moto rista não tem dificuldade em girar o volante, mesmo com tamanho menor. A postura do moto rista é agradável, ainda que tenha um perfil mais esportivo. Além disso, a suspensão do 208 é claramente mais firme que no C3. Os bancos também sugerem um desenho mais esportivo, tendo uma espuma mais densa. A forração dos bancos, e o acabamento interno, não são visualmente tão elaborados quanto aos encontrados no C3.
Preço
O Peugeot 208 na versão Active Pack parte de R$ 46,9 mil. Com o câmbio automático sobe para R$ 52,6 mil. O único opcional é a escolha do cor (metálica por R$ 1,2 mil e branco perolizado por R$ 1,6 mil). Já o C3 Tendance automático parte de R$ 53,9 mil. Entre os opcionais estão as cores (metálica por R$ 1,4 mil e branco perolizado por R$ 1,8 mil) e o sistema de navegação por R$ 2,4 mil.
Conclusão
Fica bem claro que apesar dos modelos compartilharem a mesma plataforma, e saírem da mesma fábrica, são produtos bem diferentes. Inclusive é muito difícil dizer qual deles é o melhor sob o aspecto de produto. Afinal, como foi demonstrado, eles tem características que permitem atender públicos diferentes. Em teoria, poderíamos esperar uma performance de vendas equilibrada. Até uma vantagem do 208 seria cabível, pois o modelo é mais barato (na média) e também mais recente. Mas o C3 tem melhor performance em vendas no mercado nacional.
Revista Comprecar
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